Introdução
A transformação digital na construção civil tem sido impulsionada pela adoção do Building Information Modeling (BIM), uma metodologia que permite a modelagem digital e a gestão integrada de projetos. No entanto, um dos desafios recorrentes na aplicação do BIM é a falta de padronização na representação visual dos elementos do modelo, especialmente no uso de cores, onde em suas representações usam elementos texturizados em muitas das apresentações. Essa inconsistência compromete a clareza da informação e dificulta a colaboração entre as diferentes disciplinas envolvidas no projeto sem contar até mesmo para o cliente eu as vezes só quer ver o modelo e sabem onde está os pilares e onde cada tubulação passa.
O uso estratégico de cores dentro de modelos BIM pode ser um grande facilitador na leitura e interpretação dos dados. Assim como as hachuras foram historicamente utilizadas para diferenciar materiais e elementos em desenhos técnicos 2D, as cores desempenham um papel semelhante no ambiente tridimensional. A ausência de um padrão definido leva a confusões, retrabalho e dificuldades na compatibilização dos modelos digitais.

A proposta de padronização de cores busca estabelecer diretrizes que melhorem a comunicação visual entre arquitetos, engenheiros, orçamentistas, gestores de obra e demais profissionais da construção civil. Além disso, a normatização desse aspecto no BIM pode reduzir erros de projeto, agilizar a tomada de decisões e tornar a visualização do modelo mais intuitiva para especialistas e leigos.
O foco é apresentar uma abordagem técnica para a padronização de cores no BIM, destacando sua importância, aplicações e desafios. Serão abordadas questões como a percepção visual, as possibilidades de implementação no formato IFC e os benefícios esperados para o setor da construção civil.

1. O Papel das Cores na Interpretação de Modelos BIM
A utilização de cores em modelos BIM não se limita a um aspecto estético, mas sim a uma funcionalidade crítica para a interpretação e organização da informação. No ambiente tridimensional, onde múltiplos elementos coexistem, a distinção visual se torna um fator determinante para a eficiência do trabalho colaborativo.
Nosso modelo 3D é a representação gráfica do nosso banco de dados daquele determinado projeto.
A percepção humana é altamente sensível a contrastes e padrões visuais, tornando as cores uma ferramenta essencial na diferenciação de disciplinas como estrutura, arquitetura, instalações elétricas e hidráulicas. Uma padronização eficaz permite que os profissionais reconheçam rapidamente os elementos do modelo, reduzindo a necessidade de análises detalhadas e otimizando o tempo de trabalho.

Além de facilitar a leitura dos modelos, a aplicação de cores padronizadas pode contribuir para a identificação de inconformidades e conflitos entre diferentes disciplinas.
Por exemplo, a sobreposição indevida de elementos estruturais e instalações pode ser detectada visualmente de forma ágil, evitando incompatibilidades que comprometem a execução da obra.
Outra vantagem da padronização de cores é sua aplicabilidade para diferentes públicos. Enquanto engenheiros e arquitetos podem utilizar a codificação cromática para aprofundar a análise do modelo, gestores e clientes podem se beneficiar de uma visualização intuitiva que os auxilia na compreensão do projeto sem necessidade de conhecimento técnico avançado.
Portanto, a criação de um sistema de cores normatizado representa um avanço significativo para a indústria da construção, agregando clareza e eficiência ao fluxo de trabalho dentro do ambiente BIM.
2. A Implementação de Cores no Formato IFC
O formato Industry Foundation Classes (IFC) é um dos principais padrões abertos utilizados na interoperabilidade de modelos BIM. A possibilidade de atribuir cores aos elementos dentro do IFC oferece um caminho viável para a padronização visual dos projetos.
Dentro do IFC, as cores são representadas por meio do recurso IfcColourRGB, que permite associar tonalidades específicas a cada elemento do modelo. Esse recurso possibilita que diferentes disciplinas e categorias de objetos possuam representações visuais distintas, facilitando a identificação e análise do projeto.
A utilização do IfcMaterial dentro do IFC também pode ser integrada ao sistema de cores, garantindo que a aparência dos elementos mantenha um padrão visual entre diferentes softwares. Isso evita variações indesejadas quando o modelo é compartilhado entre plataformas distintas, garantindo uniformidade na interpretação dos dados.
Outro ponto relevante na implementação da padronização de cores no IFC é a compatibilidade com normas e classificações técnicas, como a NBR 15965, que define sistemas de organização da informação na construção civil. Integrar um padrão cromático às tabelas normativas pode contribuir para uma adoção mais ampla e estruturada da proposta.
Com uma aplicação bem definida no IFC, a padronização de cores pode se tornar um elemento chave para melhorar a comunicação visual dos projetos BIM, reduzindo ambiguidades e aumentando a eficiência no gerenciamento das informações do modelo.

3. Benefícios da Padronização de Cores no BIM
A adoção de um sistema de cores padronizado nos modelos BIM traz uma série de benefícios diretos para o fluxo de trabalho na construção civil. A primeira e mais evidente vantagem é a melhoria na comunicação entre as equipes, pois a padronização elimina interpretações subjetivas e promove uma linguagem visual única.
Outro benefício fundamental é a redução de erros e retrabalhos. Quando os elementos do modelo são facilmente identificáveis por cores, há menos chances de confusão na leitura do projeto, resultando em menor incidência de incompatibilidades entre disciplinas.
A otimização da tomada de decisões também é um fator relevante. Com uma codificação cromática bem definida, engenheiros e arquitetos podem analisar rapidamente o modelo, identificando áreas críticas e solucionando problemas de forma mais ágil. Isso impacta diretamente na eficiência operacional e na produtividade das equipes.
Além disso, a padronização de cores pode ser um diferencial na documentação e treinamento de profissionais. Novos colaboradores e equipes externas podem se adaptar mais rapidamente aos modelos BIM padronizados, reduzindo o tempo necessário para a familiarização com o projeto.
Por fim, a adoção desse padrão pode levar à criação de uma norma técnica nacional, consolidando uma metodologia unificada para todo o setor da construção civil e ampliando a interoperabilidade entre softwares e empresas.
4. Desafios na Implementação da Padronização
Apesar dos benefícios evidentes, a implementação de uma padronização de cores no BIM enfrenta desafios técnicos e operacionais que precisam ser considerados.
O primeiro obstáculo é a variação entre softwares BIM, que utilizam diferentes métodos para representar cores e materiais. A falta de uma diretriz clara pode dificultar a aplicação uniforme das cores entre plataformas.
Outro desafio importante é a resistência à mudança dentro do setor. Muitas empresas já possuem padrões internos estabelecidos e podem relutar em adotar um novo sistema, especialmente se isso exigir ajustes nos fluxos de trabalho.
A necessidade de testes de contraste e legibilidade também é um fator crucial. Algumas combinações de cores podem não ser eficazes para todos os usuários, especialmente para pessoas com deficiências visuais, como daltonismo.
Além disso, é essencial garantir que a padronização seja flexível o suficiente para acomodar as diferentes necessidades de cada disciplina, evitando uma abordagem rígida que limite a personalização dos modelos.
Por fim, para que a padronização tenha ampla adoção, será necessário um esforço coordenado entre empresas, instituições acadêmicas e órgãos reguladores, a fim de validar e consolidar as diretrizes em uma futura norma técnica.